Na última terça-feira (23), a CanaOnline realizou uma live em sua página no Instagram com o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues. Na ocasião, foram debatidos temas referentes ao andamento da safra 2020/21 no Centro-Sul e os impactos da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) e da guerra dos preços do petróleo no segmento e, consequentemente, no financeiro das usinas e fornecedores.

Segundo Padua, apesar de um cenário sombrio e repletos de incertezas desenhado no mês de março, o setor volta a mostrar sinais de recuperação e a safra atual pode ser positiva. “Talvez não a melhor dos últimos anos, como prevíamos há alguns meses, mas ainda sim um ciclo interessante, seja do ponto de vista de volume de produção, produtividade e até mesmo remuneração.”

Durante a entrevista, o Diretor técnico da Unica relatou que as perspectivas no início do ano eram bastante promissoras. Os preços do açúcar figuravam acima de 15 centavos de dólar por libra-peso; o etanol estava recuperando sua competitividade perante a gasolina; e a oferta de cana seria maior do que a registrada no último ciclo. Sem falar das expectativas envolvendo o início do RenovaBio e da comercialização dos Créditos de Descarbonização (CBIOs). No entanto, as esperanças do setor minguaram diante de duas adversidades: a guerra do petróleo entre a Rússia e Arábia Saudita e a pandemia de Coronavírus, que reduziu a demanda por etanol combustível.

“Essas situações assustaram o setor, que começou a agir para mitigar ao máximo os efeitos negativos. Começamos a trabalhar com algumas hipóteses de apoio no setor governamental, como aumento na CIDE da gasolina e isenção de PIS e COFINS, o que não aconteceu. Em segundo momento, tentamos o financiamento de estoques para as empresas não venderem com prejuízos altos. Em paralelo, o setor se preparou para a safra no que tange a saúde de seus colaboradores.”

Felizmente, Padua afirmou que, após alguns meses de incertezas, o cenário volta a parecer promissor. Os preços do petróleo reagiram no mercado internacional; o preço da gasolina – que estava saindo das refinarias a menos de R$ 1,00 e agora figura na casa de R$ 1,60 – favorece a retomada da competitividade do etanol, que já alcança a mesma paridade na bomba de 2019; e o açúcar, por sua vez, segue remunerador graças ao câmbio atual – mesmo com a queda de 15 cents/lb para 12 cents/lb.

“Nosso setor tem uma característica de flexibilização que o mundo não tem, ou seja, consegue virar a chave de produção para o lado que está remunerando melhor. O mercado de etanol teve uma queda significativa, devendo fechar o ano com uma redução de cerca de 25% em comparação com 2019. Mas isso não deve afetar o equilíbrio, pois ao mesmo tempo em que houve queda no consumo, houve também redução da oferta, pois o segmento passou a focar seus esforços mais na produção de açúcar, mercado que está indo de vento em popa.”

Quando questionado sobre a necessidade de criação de políticas públicas, o diretor técnico da Unica afirmou que a entidade está em conversas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Banco do Brasil para alinhar o financiamento de estoques. Mas duas seriam as maiores necessidades do segmento na atualidade: implantação e início do Renovabio e, consequentemente, da comercialização dos CBIOs; e a manutenção do diferencial tributário da gasolina para com o etanol, a fim de perpetuar a competitividade do biocombustível. Porém, Pádua foi enfático ao dizer que o setor precisa ser menos dependente do governo e buscar autossuficiência, seja em produtividade agrícola ou em redução dos custos de produção.

Fonte: www.canaonline.com.br